A busca incessante por um consumo elevado de proteínas tem levado muitas pessoas a reavaliar suas dietas, motivadas pelos supostos benefícios deste nutriente para a saúde e a forma física. Entretanto, essa tendência vem acompanhada de diversos riscos e preocupações, dentre elas, a de que a proteína em excesso faz mal à saúde.
Consumir proteínas em excesso, seja por meio de alimentos ou suplementos, pode não ser a estratégia mais saudável. Em contrapartida, um consumo adequado de proteínas oferece benefícios significativos, como a proteção do sistema imunológico, auxílio no emagrecimento, prevenção da sarcopenia e aumento de massa muscular. A chave está no equilíbrio e na ingestão consciente de proteínas.
Proteína em excesso faz mal?
A proteína é essencial para a vida e está envolvida em várias funções vitais do corpo humano. É importante no crescimento, desenvolvimento e reparação de tecidos.
A proteína é um dos três principais macronutrientes, junto com carboidratos e gorduras. Portanto, é necessário consumir proteína suficiente para evitar a desnutrição e preservar a massa e a força muscular à medida que envelhecemos.
Mas antes de refletirmos sobre se a proteína em excesso faz mal, é importante entendermos o que pode ser considerado um excesso de proteína na alimentação.
As recomendações gerais de proteínas para pessoas saudáveis baseiam-se em 0,8g/kg de peso corporal, ou cerca de 10% a 35% das calorias diárias, segundo as DRIs (Dietary Reference Intakes) do Instituto de Medicina dos Estados Unidos.
No entanto, essa recomendação pode variar. Para pessoas idosas, os estudos recomendam 1,2g/kg peso corporal de proteína , divididos em três refeições com 0,4g/kg de peso corporal, por dia, para evitar a sarcopenia. Para a hipertrofia, em praticantes de exercícios de força, a recomendação gira em torno de 1,6 a 2,2g/kg de peso corporal.
Para o emagrecimento, existem estudos que indicam que o consumo de proteína acima de 2,2g/kg de peso corporal, por dia, pode ser benéfico para emagrecimento e manutenção da massa muscular, especialmente em pessoas fisicamente ativas ou atletas.
No entanto, a quantidade de proteína considerada excessiva pode variar de acordo com fatores como idade, sexo, nível de atividade física e condições de saúde.
Os níveis máximos toleráveis de proteína não foram estabelecidos nas DRIs porque, para a maioria das pessoas, o corpo tem uma capacidade para metabolizar proteínas em níveis acima da ingestão usual. No entanto, recomenda-se cautela com ingestões muito elevadas por períodos prolongados sem supervisão, pois isso pode sobrecarregar os rins e levar a outros problemas de saúde.
Estudos sugerem que ingestões de proteína em torno de 3 a 3,5g/kg de peso corporal, por dia, podem ser seguras para pessoas saudáveis a curto prazo. Mas esses níveis, geralmente, são considerados extremos e não são necessários para a maioria das pessoas. Ingestões acima de 4g/kg de peso corporal por dia são raramente recomendadas e podem ser consideradas excessivas.
A crescente popularidade das dietas hiperproteicas, levanta a questão: será que proteína em excesso faz mal, podendo trazer riscos à saúde?
Veja abaixo o que é mito e o que é verdade quando o assunto são as proteínas na alimentação:
- Algumas fontes proteicas são mais saudáveis que outras.
Verdade. Algumas fontes proteicas são mais saudáveis que outras devido ao conjunto de nutrientes que as acompanham. Por exemplo, a costela bovina, embora rica em proteínas, contém altas quantidades de gordura saturada, enquanto o patinho contém menos (27 e 7g/100g de gordura, cozidos, respectivamente. O presunto, sem a capa de gordura, contém pouca gordura saturada, mas é rico em sódio e nitritos. Em contrapartida, o salmão é fonte de gorduras poliinsaturadas ômega-3. As lentilhas, por sua vez, fornecem proteínas e uma alta quantidade de fibras, com baixo teor de gordura saturada e sódio. Essas características tornam fontes proteicas como aves, peixes, ovos, leguminosas e castanhas mais vantajosas para a saúde, em comparação com carnes vermelhas e processadas, contribuindo para a redução do risco de doenças e promovendo uma vida mais longa e saudável.
- A qualidade da proteína importa tanto quanto a quantidade.
Verdade. Como vimos, algumas fontes proteicas são mais saudáveis que outras, por isso as evidências sugerem que ter atenção na qualidade da fonte de proteína é tão importante para a saúde quanto o total de proteína consumido no dia.
Consumir 1,6g/kg de peso corporal, por dia, de fontes proteicas como leguminosas, castanhas, aves, ovos e peixes, é muito mais saudável do que consumir a mesma quantidade através de alimentos como costela bovina, linguiça, salame e salsicha, por exemplo.
- Proteína em excesso faz mal para os rins e para o fígado.
Verdade. Um consumo muito elevado de proteínas por longos períodos e sem o acompanhamento de um nutricionista, pode sobrecarregar os rins e o fígado, mesmo em pessoas saudáveis. Já pessoas com predisposição ou com problemas renais e no fígado, o excesso de proteínas pode ser prejudicial mesmo em curto período de tempo, devido ao aumento da carga de nitrogênio proveniente do metabolismo das proteínas.
- Proteína em excesso faz mal para o colesterol.
Meia verdade. Depende da qualidade da proteína. Algumas fontes de proteína animal podem conter gorduras saturadas que podem aumentar os níveis de colesterol LDL (“ruim”), especialmente em excesso e no contexto de uma dieta desequilibrada. Já proteínas magras, como peixes, aves, ovos e leguminosas, são alternativas mais saudáveis, que, ao contrário, regulam o colesterol.
- Carnes vermelhas e embutidos podem aumentar o risco de câncer.
Meia verdade. O consumo excessivo de carnes vermelhas e, principalmente, de embutidos (carnes processadas) está associado a um aumento do risco de câncer, especialmente câncer colorretal.
A Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC), parte da Organização Mundial da Saúde (OMS), classifica carnes processadas como carcinogênicas para humanos (Grupo 1), enquanto a carne vermelha é classificada como provavelmente carcinogênica (Grupo 2A).
Isso se deve a diversos fatores, como a presença de compostos carcinogênicos formados durante o processamento da carne, como nitrosaminas e hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (HAPs). Além disso, o alto teor de gordura saturada na carne vermelha pode promover a inflamação e o estresse oxidativo, processos relacionados ao desenvolvimento do câncer.
No entanto, o contexto da alimentação é mais relevante para a saúde do que um único tipo de alimento. Consumir carnes vermelhas e embutidos ocasionalmente e dentro de uma dieta equilibrada, rica em frutas e vegetais, pode não representar um risco significativo para a saúde. O segredo está na moderação e na variedade, priorizando opções mais saudáveis e limitando o consumo a aproximadamente 500 gramas de carne cozida por semana, enquanto as carnes processadas devem ser evitadas.
- Dietas ricas em proteínas são melhores para o emagrecimento.
Verdade. Mas isso não significa que o emagrecimento será mais efetivo se a dieta tiver proteínas em excesso. Apesar da proteína ser o macronutriente que o corpo gasta mais energia para digerir, qualquer alimento em excesso pode favorecer o ganho de peso, até mesmo as proteínas.
Um emagrecimento saudável e sustentável envolve uma dieta equilibrada e nutritiva, com balanço adequado de carboidratos, proteínas e gorduras de boa qualidade.
- Para o ganho de massa muscular, quanto mais proteína, melhor.
Mito. Vários estudos já comprovaram que quantidades maiores que 1,6 a 2,2g/kg de peso corporal total, por dia, não promovem ganhos adicionais. Além disso, os carboidratos e as gorduras também têm seu papel na hipertrofia, na recuperação, na produção de energia e na produção hormonal.
Vale lembrar também que é possível ganhar massa muscular com proteína vegetal também. A soja, a combinação de cereais e leguminosas e boas fontes de proteína em pó vegetal, são capazes de fornecer todos os aminoácidos essenciais, assim como as fontes animais.
- O consumo adequado de proteínas é benéfico para a saúde, de forma geral.
Verdade. Consumir proteínas em níveis adequados é essencial para proteger o sistema imunológico, auxiliar no emagrecimento, prevenir a sarcopenia e aumentar a massa muscular. A proteína é fundamental para a formação de anticorpos, essenciais no combate a microrganismos, e um consumo inadequado pode prejudicar a resposta imunológica. Para o emagrecimento, a proteína é recomendada em maior quantidade devido ao seu efeito térmico e à saciedade. Para prevenir a sarcopenia ou aumentar a massa muscular, é necessária uma distribuição adequada de proteínas ao longo do dia, garantindo um consumo suficiente para manutenção da massa muscular ou para promover a hipertrofia.
Livia Freitas e Fernanda Furmankiewicz (CRN/SP 6042) – Nutrição e Curadoria da Boomi.