Você já se pegou se perguntando o que é comer saudável de verdade (e o que não é)? Com tanta informação circulando nas redes sociais, modismos alimentares e rótulos enganosos nos produtos, é compreensível que muitas pessoas fiquem confusas sobre o que realmente significa ter uma alimentação mais saudável. Será que é cortar totalmente o açúcar? Comer apenas orgânicos? Contar calorias?
Comer saudável de verdade é sobre priorizar alimentos naturais sem se prender a regras rígidas ou idealizações irreais. É fazer boas escolhas na maior parte do tempo, mas também saber que, em certos momentos, o mais nutritivo pode ser dividir um pedaço de bolo com alguém querido. Não se trata de perfeição, mas de constância e, acima de tudo, de equilíbrio.
O que é comer saudável de verdade
Comer saudável de verdade: o que isso significa, afinal?
De forma simples, comer saudável de verdade é fazer boas escolhas na maior parte do tempo, priorizando alimentos naturais e minimamente processados, mas sem abrir mão do equilíbrio, do prazer à mesa e da flexibilidade social.
É aquela alimentação que lembra a comida de vó: arroz, feijão, legumes, verduras, um franguinho grelhado, uma carne de panela, ovos cozidos, frutas da estação, um cafezinho coado, um queijo, um iogurte. Não precisa ser “fit”, não precisa vir com nome em inglês, nem ser feita de ingredientes exóticos. Precisa ser comida de verdade, nutritiva, acolhedora e adaptada à realidade de cada um.
Comer saudável de verdade também envolve escutar o corpo: comer com atenção e sem distrações, parar quando estiver satisfeito (ainda com um pouco de fome no final, como diziam nossos avós), e não seguir dietas restritivas que nos fazem viver pensando em comida 24 horas por dia.
Outro ponto essencial sobre o que é comer saudável de verdade é a conexão com os sinais do corpo. Saber identificar o que é fome fisiológica (aquela que surge gradualmente, acompanhada de sinais como estômago roncando, queda de energia ou dificuldade de concentração) e o que é vontade de comer (por tédio, estresse, ambiente ou hábito), é parte fundamental da construção de uma relação saudável com a comida. Comer com atenção plena ajuda a perceber essas diferenças, além de permitir que você pare de comer quando estiver satisfeito, sem exageros ou culpas.
O que não é comer saudável
Apesar das boas intenções, muitos comportamentos que parecem saudáveis na verdade não são:
- Obsessão por calorias
Focar apenas em números, como calorias ou macros, sem considerar a qualidade dos alimentos, é um erro comum. Para quem busca perder gordura, por exemplo, o déficit calórico é o mais importante para emagrecer, mas é a qualidade da alimentação que sustenta o déficit. Uma alimentação nutritiva na maior parte do tempo, controla o apetite, previne doenças, modula o paladar, o comportamento alimentar e promove a escolha espontânea por alimentos mais nutritivos a longo prazo.
- Evitar tudo o que é “não saudável” a qualquer custo
Muitas pessoas acreditam que comer saudável de verdade significa nunca comer pizza, bolo, chocolate, batata frita. Na prática, o que torna uma alimentação equilibrada é o conjunto das escolhas ao longo do tempo, em frequência e quantidade, e não uma refeição isolada.
- Consumir excesso de ultraprocessados “do bem”
Snacks integrais comercializados com apelo “fit” (mas cheios de açúcares e aditivos artificiais), ainda são ultraprocessados. Comer saudável de verdade é evitar esses produtos na maior parte do tempo, mesmo que eles prometam ser mais “funcionais”.
Isso não significa que você precisa excluir totalmente esses alimentos. Eles podem, sim, entrar em uma alimentação equilibrada de vez em quando, especialmente se você gosta deles. O importante é ter consciência de que, apesar da aparência saudável, ainda são industrializados e não devem ser a base da dieta.
Confira o post “Como saber se um produto é rico em fibras” para saber mais.
- Comer 100% saudável o tempo todo
Sim, até isso pode ser prejudicial. Quando uma pessoa nunca permite exceções, deixa de ir a festas por causa da comida, sente culpa extrema ao comer algo diferente ou passa a evitar qualquer alimento que não considere “limpo”, isso pode indicar ortorexia – um transtorno alimentar caracterizado pela obsessão por comer apenas alimentos considerados saudáveis.
Embora pouco falada, a ortorexia é cada vez mais comum, especialmente entre pessoas que buscam melhorar sua alimentação por meio das redes sociais. Influenciadores, blogs e páginas fitness muitas vezes estimulam uma visão extremista da alimentação, levando à ideia de que comer saudável de verdade é ter controle absoluto sobre tudo o que se come. Essa busca pela perfeição alimentar pode causar isolamento social, culpa constante, ansiedade, e até deficiências nutricionais, já que a pessoa restringe muitos grupos alimentares com medo de “errar”.
Lembre-se: alimentação saudável não é rigidez. É equilíbrio.
Agora que já esclarecemos o que é comer saudável de verdade (e o que não é), aqui vão algumas dicas para aplicar esse conceito no dia a dia:
- Prefira alimentos naturais ou minimamente processados. Frutas, legumes, verduras, grãos integrais, ovos, carnes magras, oleaginosas.
- Monte pratos coloridos e variados. Cada cor representa um conjunto diferente de nutrientes.
- Coma com atenção plena. Desconecte-se das telas, mastigue devagar, observe os sinais de fome e saciedade.
- Não demonize nenhum alimento. Chocolate, pão, macarrão, doces e outros itens podem fazer parte de uma alimentação saudável quando consumidos com moderação e prazer.
- Permita-se aproveitar momentos sociais. Comer fora, ir a festas, dividir um lanche com os amigos também faz parte de uma vida saudável.
- Respeite suas preferências e individualidade. O que funciona para o outro pode não funcionar para você.
- Comer saudável de verdade não é só o que está no prato, é também como você se sente em relação à comida. Se alimentar bem também envolve: prazer em comer, memórias afetivas, cultura alimentar, relações sociais.
Conclusão
Alimentar-se bem não significa seguir uma lista rígida de “pode ou não pode”, mas sim nutrir o corpo com qualidade, respeitar seus sinais e permitir flexibilidade para momentos sociais e afetivos.
Uma alimentação realmente saudável não se mede pela quantidade de calorias contadas (ou cortadas), mas pela leveza com que ela se encaixa na sua vida. Comer saudável de verdade é fazer da comida uma aliada, e não uma fonte constante de culpa ou controle.
Se a sua alimentação te deixa com medo, ansiedade ou sensação de fracasso ao sair do “planejado”, talvez esteja na hora de reavaliar se isso é saúde ou obsessão disfarçada. Saúde é constância, é escuta, é prazer e é equilíbrio. Se precisar, procure um nutricionista para te auxiliar.
Livia Freitas (CRN/SP 3 82983) e Fernanda Furmankiewicz (CRN/SP 6042) – Nutrição e Curadoria da Boomi.