Tema polêmico e cercado por muitas dúvidas, o post de hoje é sobre 9 mitos e verdades do jejum intermitente.
Com exceção do jejum “natural”, da época em que era preciso caçar para comer, o jejum é uma prática espiritual milenar, utilizada por religiões como o Cristianismo, Islamismo, Hinduísmo, Budismo, dentre outras, com propósitos relacionados à fé, à limpeza espiritual ou como uma forma de renovar forças para enfrentar dificuldades.
Basicamente, significa abster-se voluntariamente de comer e/ou beber, embora possa incluir outros quesitos não relacionados à alimentação, como a abstenção de relações íntimas, de mídias sociais, de televisão e de fumo e álcool.
O jejum passou a ser estudado como uma estratégia alimentar por volta de 1960, a fim de verificar seus efeitos no organismo, como no perfil lipídico e glicêmico, na pressão arterial, no tratamento do sobrepeso e obesidade, dentre outras condições clínicas.
Porém, de uns tempos para cá, passou a ser praticado, muitas vezes sem orientação de um nutricionista, por pessoas que buscam emagrecimento e dietas da moda.
9 mitos e verdades do jejum intermitente
Existem diversos tipos de jejum, como o jejum metabólico, em que se ingere alimentos que não aumentam a insulina (folhas, abacate, limão, maracujá, etc.), jejum 24/24, em que se alimenta dia sim, dia não; jejum 16/8, em que a janela de alimentação dura 8 horas; dentre outros.
No entanto, o jejum não é essencial e nem todo mundo se beneficia – muito menos quando a estratégia é feita de modo engessado, sem considerar a individualidade.
Pensando nisso, separamos os 9 mitos e verdades do jejum intermitente mais comuns.
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O período de sono conta como jejum
Verdade. Se você já leu o nosso post “Crononutrição: a relação entre o ritmo circadiano e a alimentação” sabe que o organismo é regulado também por estímulos externos (como a luz do dia e a escuridão, o clima, etc) e não apenas internos. Portanto, o período de sono não só conta como jejum, como é o período ideal para estar em jejum. É o momento em que órgãos como o pâncreas e fígado, por exemplo, a grosso modo, estão descansando. Já pela manhã, com a luz do dia, os órgãos são mais eficientes e aptos a receber alimentos, a fim de fornecer energia para as atividades diárias.
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É benéfico para o organismo
Mito. O jejum não é um determinante para tratar quaisquer condições, como o colesterol, triglicerídeos, glicemia, pressão arterial, perda de gordura, gastrite, etc. Na verdade, o que realmente conta para manter o bom funcionamento do organismo, além de considerar a crononutrição, é a qualidade da alimentação nos períodos em que se alimenta.
Inclusive, diversos estudos têm mostrado que tomar um café da manhã e almoço reforçados e jantar alimentos mais leves, é melhor para o controle da glicemia e dos triglicerídeos, além de evitar o ganho e o reganho de peso.
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Emagrece
Mito. O ideal é que o emagrecimento ocorra de forma saudável e sustentável, respeitando os sinais de fome e de saciedade do corpo, com alimentos de qualidade. Sobre esse assunto, vale ler o post com “9 dicas para emagrecer de forma saudável e sustentável”.
O jejum até pode ser utilizado, em alguns casos, com acompanhamento de um nutricionista, como uma ferramenta para diminuir a janela de alimentação, e, assim, ajudar a reduzir calorias. Nesse caso o profissional avaliará em qual momento é mais conveniente para o paciente, considerando sua rotina e necessidades, o que é muito individual. Por isso, fazer jejuns por conta própria e de forma engessada, como jejuns 24/24 ou 16/8, pode ser contraproducente e prejudicial.
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Melhora a sensibilidade à insulina
Verdade. No entanto, é totalmente possível melhorar a sensibilidade à insulina se alimentando normalmente de forma saudável, com uma dieta equilibrada e com base em vegetais, leguminosas, proteínas, e, mais ainda, ao praticar exercícios físicos. De nada adianta ficar um período em jejum, se ao final dele, os alimentos não forem de qualidade.
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Pode deixá-lo cansado e mal-humorado
Verdade. O jejum intermitente coloca o corpo em uma situação de estresse, porque há ausência ou insuficiência de comida, em um período do dia que o corpo precisava de alimento. Com isso, a liberação de hormônios como adrenalina e cortisol aumenta, colocando o corpo em situação de estresse, dando uma sensação de cansaço, fadiga e mal humor.
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Pode levar a comer com impulsividade
Verdade. Pelos motivos do tópico anterior, o corpo fica estressado e tende a buscar prazer nos alimentos. Assim, depois de um tempo em jejum, a tendência é que, ao se alimentar, a busca seja por uma grande quantidade de alimentos, muitas vezes, não muito saudáveis. Principalmente pessoas que já tem uma inclinação a se alimentar de forma impulsiva mesmo sem fazer jejum.
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É perigoso se exercitar em jejum
Verdade. Se exercitar em jejum pode causar hipoglicemia, principalmente se, no dia anterior, o corpo não estiver bem nutrido, além de prejudicar a performance. Se exercitar em jejum não traz nenhum benefício adicional ou significativo, em relação a se exercitar alimentado, além de fazer com que o organismo precise utilizar a massa muscular como fonte de energia quando mais que 12 horas, em média, em jejum.
Algumas pessoas podem não se sentir bem para se exercitar após se alimentar. Nesse caso, é preciso procurar um nutricionista para adequar a alimentação. O ideal é que sejam feitas refeições com carboidratos, como frutas e aveia, pois gorduras e proteínas costumam pesar no estômago. Veja mais no post “Alimentação no pré e pós treino – Dicas de refeições práticas”.
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Causa perda de massa magra
Meia verdade. O corpo utiliza aminoácidos proveniente da massa muscular, no processo conhecido como gliconeogênese após, em média, 12 horas em jejum. Para que a massa magra seja mantida o máximo possível, é importante que a alimentação esteja bem ajustada ao longo do dia para essa finalidade, com um consumo adequado de proteínas, carboidratos e gorduras.
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Pode reduzir o nível de atividade física
Verdade. O estado de jejum costuma gerar sensação de fadiga e indisposição. Com isso, tanto os níveis de atividade física (como subir e descer escadas, ir a algum lugar a pé), como também a performance de exercícios físicos (qualquer modalidade elaborada, que tem começo, meio e fim, como musculação, natação, etc.), ficam prejudicadas.
Conclusão
Conseguiu esclarecer suas dúvidas através deste post sobre os mitos e verdades do jejum intermitente?
Como vimos, o jejum não faz nenhum milagre para a saúde.
Não há nada mais saudável e natural do que aprender a identificar os sinais de fome e de saciedade do corpo e, assim, respeitá-lo.
Dessa forma, a chance de aderir a uma alimentação saudável para a vida toda e ter uma qualidade de vida melhor, fica muito mais leve.
Mas, caso acredite que o jejum possa te ajudar de alguma forma, procure um nutricionista para avaliar a melhor estratégia, respeitando sua individualidade.
Livia Freitas e Fernanda Furmankiewicz (CRN/SP 6042) – Nutrição e Curadoria da Boomi.