A amêndoa de licuri é uma castanha, típica do semiárido nordestino, de sabor adocicado, amplamente utilizada na culinária regional. Mas quando o assunto é o valor nutricional da amêndoa de licuri, é importante destacar que, apesar de nutritiva, ela deve ser consumida com moderação. Isso porque o perfil de gorduras da amêndoa de licuri é rico em gorduras saturadas, cujo excesso é associado ao aumento do LDL (o colesterol “ruim”). Entender como consumir a amêndoa de licuri de forma consciente é essencial para aproveitar seus benefícios sem excessos.
Valor nutricional da amêndoa de licuri
Poucas pessoas conhecem a amêndoa de licuri. Esse alimento exótico, típico do semiárido nordestino tem conquistado cada vez mais espaço por seu sabor marcante e pelas diversas formas de uso na culinária regional. Mas além do sabor, o que chama a atenção é o valor nutricional da amêndoa de licuri que, apesar de rico em fibras e minerais importantes, como ferro e zinco, também é rico em gorduras saturadas e, por isso, deve ser consumido com moderação. Vamos entender mais sobre o perfil de gorduras da amêndoa de licuri e como consumir a amêndoa de licuri de forma inteligente.
A amêndoa de licuri é uma castanha oleaginosa, originária da palmeira Syagrus coronata, também conhecida como licurizeiro, nativa do semiárido nordestino. Essa palmeira produz pequenos frutos ovais com uma polpa fibrosa e uma única amêndoa no interior, que é a parte comestível e nutritiva. Tradicionalmente, a amêndoa é consumida torrada in natura (assim como outras castanhas como conhecemos), mas também usada em farofas, doces, bolos e até mesmo na extração de um óleo aromático e muito valorizado na culinária regional.
O licuri é um fruto tão singular que o seu perfil nutricional ainda não aparece em tabelas oficiais de composição de alimentos, como a TACO ou a TBCA. Por isso, as informações disponíveis sobre o valor nutricional da amêndoa de licuri vêm de estudos científicos pontuais que estão nas referências deste post.
Os principais nutrientes da amêndoa de licuri torrada sem sal, considerando a porção média recomendada para castanhas, de 30g ou 1 punhado, incluem:
- Calorias: 175kcal
- Carboidratos totais: 3g
- Proteínas: 3g
- Gorduras totais: 17g (100%)
- Saturadas: ~14g (80%)
- Insaturadas: ~3g (20%)
- Fibras: 3g
- Potássio: 170mg (6% da ingestão diária recomendada – IDR)
- Fósforo: 111mg (16% da IDR)
- Magnésio: 49mg (13% da IDR)
- Ferro: 1mg (10% da IDR)
- Cálcio: 13mg (0,1% da IDR)
- Zinco: 0,7mg (7% da IDR)
- Cobre: 330mcg (30% da IDR)
- Manganês: 0,7mg (70% da IDR)
A amêndoa de licuri também é rica em antioxidantes, em especial, o betacaroteno, que é uma substância pró-vitamina A, que atua na proteção das células contra os radicais livres, na manutenção da saúde da pele e no bom funcionamento da visão e do sistema imunológico.
Como vimos acima, ela é nutritiva e se destaca por ser rica em minerais importantes, como ferro, zinco, magnésio, cobre, manganês, e fibras, embora deva ser consumida de forma pontual, devido ao perfil de gorduras da amêndoa de licuri.
Perfil de gorduras da amêndoa de licuri
Embora apresente um perfil nutricional interessante, com boas quantidades de fibras, minerais e antioxidantes, ela se diferencia de outras oleaginosas mais conhecidas quando observamos o perfil de gorduras da amêndoa de licuri, ou seja, a qualidade das suas gorduras.
Enquanto castanhas como a do Pará, caju, nozes e amêndoas, são fontes predominantes de gorduras mono e poli-insaturadas — associadas a efeitos positivos para a saúde cardiovascular — a amêndoa de licuri chama atenção por conter uma proporção grande de gorduras saturadas, em relação às insaturadas.
A gordura saturada está naturalmente presente em alguns alimentos, tanto de origem animal quanto vegetal. No caso do licuri, os principais tipos de gorduras saturadas são o ácido láurico (~45 a 55%) e o ácido mirístico (~10 a 15%) que, quando em excesso, estão associados ao aumento dos níveis de colesterol LDL (o “colesterol ruim”), conforme apontado pela American Heart Association (AHA).
Estima-se que cerca de 80% das gorduras totais do licuri sejam saturadas, assim como as gorduras do óleo de coco e óleo de palma (ou azeite de dendê) e dos seus respectivos frutos, cujo consumo deve ser eventual e moderado.
Essa semelhança não é por acaso: o licuri é o fruto de uma palmeira (Syagrus coronata), da mesma família do coqueiro (Cocos nucifera) e do dendezeiro (Elaeis guineensis), chamada de Arecaceae, o que explica o perfil de gorduras parecido entre seus frutos.
Ou seja, apesar de ser um alimento de origem vegetal e natural, o tipo de gordura predominante na amêndoa de licuri é a gordura saturada, se aproximando mais da composição de óleos, como o de coco e o dendê, do que das castanhas mais comuns, que são fonte de gorduras insaturadas. Por isso, o consumo deve ser feito com consciência e moderação — especialmente por quem já apresenta risco cardiovascular aumentado.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o ideal é que as gorduras saturadas representem menos de 10% das calorias diárias, priorizando fontes com maior teor de gorduras mono e poli-insaturadas, como azeite de oliva, óleo e sementes de chia e de linhaça, amendoim, amêndoas, nozes, castanhas de caju e do Pará e óleos de canola e de soja, por exemplo.
Assim como o óleo de coco e o de palma, o licuri pode, sim, ser usado de forma pontual e consciente na alimentação, especialmente por seu sabor marcante, riqueza cultural e valor nutricional. Só não deve ser encarado como substituto direto de outras oleaginosas mais benéficas para o coração – pelo menos não de forma frequente.
Como consumir a amêndoa de licuri
Agora que sabemos mais sobre a sua qualidade nutricional, fica a dúvida: como consumir a amêndoa de licuri? Faz mal inseri-la na alimentação?
Não faz mal algum inserir a amêndoa de licuri na alimentação, desde que a gente saiba como fazer isso de forma inteligente, já que ela pode ser consumida de diversas formas.
A amêndoa de licuri torrada, in natura, pode ser consumida pura em pequenas porções eventualmente. Mas ela também pode ser incluída em preparações como granolas doces e salgadas, adicionando crocância e um toque regional. Também pode ser polvilhada sobre saladas, conferindo sabor e textura, ou usada como topping em bowls, iogurtes e até em pratos quentes, como risotos ou legumes assados. Aqui na Boomi, por exemplo, você a encontra in natura, doce e salgada:
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Na culinária tradicional, a amêndoa de licuri é muito consumida na forma de farinha, em preparos como cocadas e bolos, e também na forma de extrato, como leite de licuri, usado como base para molhos em pratos com carnes, peixes e arroz doce (assim como o leite de coco, por exemplo).
Conclusão
O valor nutricional da amêndoa de licuri mostra que este alimento típico do semiárido nordestino é, ao mesmo tempo, uma riqueza cultural e nutricional. Fonte de fibras, minerais e antioxidantes, a amêndoa de licuri pode contribuir positivamente para a alimentação, desde que seja consumida com consciência. Seu perfil de gorduras, rico em gorduras saturadas, exige moderação, especialmente para quem busca manter a saúde cardiovascular em dia.
Consumir a amêndoa de licuri em pequenas quantidades, valorizando seu sabor único e sua versatilidade na culinária, é a melhor forma de aproveitar seus benefícios sem exageros. Afinal, comer bem também é sobre equilíbrio, cultura e prazer à mesa.
Livia Freitas (CRN/SP 3 82983) e Fernanda Furmankiewicz (CRN/SP 6042) – Nutrição e Curadoria da Boomi.
Referências
BRASIL. Ministério da Educação. Cartilha do Licuri. Brasília: MEC, 2010. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/setec/arquivos/pdf/cartilha_licuri.pdf. Acesso em: 15 abr. 2025.
EMBRAPA. Caracterização física e química do fruto de licuri (Syagrus coronata). Disponível em: https://www.alice.cnptia.embrapa.br/alice/bitstream/doc/1021509/1/2005RA076.pdf. Acesso em: 15 abr. 2025.
SANTANA, A. C. Licuri: cultura, saberes e práticas de um alimento do semiárido baiano. 2014. Monografia (Graduação em Ciências Sociais) – Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2014. Disponível em: https://repositorio.ufba.br/bitstream/ri/36716/1/LICURI%20MONOGRAFIA%202014%20REVISADO%2029%20julho.pdf. Acesso em: 15 abr. 2025.
SANTOS, J. C. et al. Composição centesimal e perfil de ácidos graxos da amêndoa de licuri (Syagrus coronata). Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 5, n. 1, p. 585–587, 2007. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbb/a/hd45Fhjwy3wYykyB3gMLHGv/?lang=pt. Acesso em: 15 abr. 2025.