Comer rápido e sem atenção é um hábito comum na correria do dia a dia, mas que pode prejudicar a digestão e o controle da saciedade. Mastigar bem os alimentos é uma etapa fundamental para facilitar o trabalho do sistema digestivo, melhorar a absorção de nutrientes e ajudar o corpo a reconhecer melhor os sinais de fome e saciedade. Mas será que existe um número ideal de mastigações por garfada para obter esses benefícios?
Na verdade, a quantidade de mastigações varia conforme a textura, o tipo de alimento e o tamanho da porção que foi levada à boca. Mais importante do que contar mastigadas é adotar um ritmo de alimentação mais lento e consciente: sentir os sabores, perceber a textura e engolir quando o alimento estiver bem triturado. É uma mudança simples, mas que pode fazer toda a diferença na saúde digestiva e na relação com a comida.
Por que é importante mastigar bem os alimentos?
Mastigar bem os alimentos é importante tanto para facilitar a digestão química ao longo do trato digestivo, evitando gases e má digestão, quanto para melhorar a relação com a comida.
A mastigação é uma etapa mecânica da digestão, que consiste em triturar os alimentos com os dentes, formando o bolo alimentar. Durante esse processo, os alimentos são quebrados em partículas menores, o que aumenta a área de contato com as enzimas digestivas, que participam da digestão química.
Além da trituração mecânica, a mastigação também estimula a produção de saliva, que tem papel fundamental na digestão inicial de alguns nutrientes, como os carboidratos. Essa combinação entre ação física (mecânica) e química (enzimática), representa a primeira etapa do processo digestivo, preparando os alimentos para as fases seguintes da digestão no estômago e intestinos.
A mastigação impacta indiretamente a digestão de todos os macronutrientes:
- Carboidratos
Enquanto mastigamos, a saliva já inicia a digestão química de alguns alimentos, principalmente os carboidratos complexos, como o amido. Isso acontece graças à presença de uma enzima chamada amilase salivar, que começa a quebrar essas moléculas maiores em moléculas menores de açúcares, como maltose (um dissacarídeo formado por duas unidades de glicose) e dextrinas (fragmentos menores de amido). Essa ação é mais evidente em alimentos ricos em amido, como pães, arroz, massas e batatas. Por isso, quanto mais tempo o alimento permanece na boca, maior a ação inicial da amilase.
Já os carboidratos simples, como glicose, frutose e sacarose, não sofrem digestão na boca, pois já estão em formas moleculares pequenas, prontas para absorção posterior.
Após a deglutição, o bolo alimentar segue para o estômago, onde a ação da amilase é interrompida pelo pH ácido. A digestão dos carboidratos continua apenas no intestino delgado, com a ação das amilases pancreáticas, que finalizam a quebra dos carboidratos para que possam ser absorvidos.
- Proteínas
As proteínas não sofrem digestão química na boca. Após a mastigação, a digestão química começa no estômago, com a ação da enzima pepsina, que atua em meio ácido. Esse é um dos motivos pelos quais é importante mastigar bem os alimentos: isso facilita a ação das enzimas estomacais, pois reduz o tamanho dos pedaços de carne, ovos ou laticínios, por exemplo, evitando gases e má digestão.
- Gorduras
A digestão das gorduras também não ocorre na boca. Ela se inicia no intestino delgado, com a ação da lipase pancreática, após a emulsificação das gorduras pelos sais biliares produzidos pelo fígado. Mesmo assim, mastigar bem os alimentos gordurosos ajuda na formação de um bolo alimentar mais homogêneo, o que facilita o processo de digestão mais à frente.
- Fibras
As fibras alimentares (solúveis e insolúveis) não são digeridas pelas enzimas humanas, passando intactas até o intestino grosso, onde podem ser fermentadas pelas bactérias da microbiota intestinal. Embora não sofram digestão química na boca ou no estômago, mastigar bem os alimentos ricos em fibras é fundamental para evitar desconfortos como distensão abdominal e gases.
Os principais benefícios em mastigar bem os alimentos, incluem:
- Melhor preparo do alimento para a digestão
Mastigar bem reduz o tamanho das partículas alimentares, facilitando a ação das enzimas digestivas ao longo do trato gastrointestinal. A saliva contém enzimas digestivas (como a amilase) e substâncias com ação antimicrobiana, além de ajudar na formação de um bolo alimentar mais fácil de engolir.
- Redução de desconfortos digestivos
Pessoas que mastigam mal têm maior risco de apresentar sintomas como má digestão, sensação de estufamento e gases, principalmente quando ingerem alimentos ricos em fibras ou proteínas de difícil digestão.
- Controle do apetite
Mastigar bem os alimentos naturalmente desacelera o ritmo da refeição, o que ajuda o corpo a reconhecer os sinais de saciedade com mais eficiência. Comer devagar permite um aproveitamento melhor do sabor dos alimentos, evitando o consumo excessivo.
- Melhora da percepção dos sabores
Mastigar bem e com atenção ajuda a perceber melhor os sabores e texturas dos alimentos, contribuindo para uma experiência alimentar mais presente e consciente.
Existe um número ideal de mastigações por garfada?
Na verdade, não existe um número ideal de mastigações por garfada. O número de mastigações necessárias varia bastante de acordo com o tipo de alimento, a textura e o tamanho da porção que foi levada à boca. Por exemplo, alimentos mais fibrosos e duros, como vegetais crus e carnes, naturalmente exigem mais mastigação que legumes cozidos ou purês, por exemplo.
Alguns estudos indicam que mastigar entre 20 e 30 vezes, pode ajudar a reduzir a velocidade da refeição e aumentar a saciedade. Em situações experimentais, participantes que aumentaram o número de mastigações consumiram menos calorias e relataram menos fome ao final das refeições.
No entanto, é importante reforçar que não se trata de contar mastigadas de forma rígida em todas as refeições – afinal, isso tiraria o prazer em comer – mas sim de buscar um ritmo mais lento e consciente. Uma boa referência prática é mastigar até sentir todos os sabores que envolvem o alimento, e perceber que está bem triturado e pronto para ser engolido, sem pressa.
Adotar esse cuidado ajuda a estimular melhor a salivação, a facilitar a digestão e a aproveitar mais os sabores da comida.
Conclusão
Ao adotar o hábito de comer com calma e prestar atenção à mastigação, promovemos uma melhor digestão e uma relação mais saudável com a comida. Mastigar bem os alimentos pode ser uma pequena mudança de comportamento, mas que, ao longo do tempo, faz uma grande diferença para a saúde e bem-estar.
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Livia Freitas (CRN/SP 3 82983) e Fernanda Furmankiewicz (CRN/SP 6042) – Nutrição e Curadoria da Boomi.