Quem nunca ouviu falar sobre os benefícios do alho para a saúde? Ele parece ser benéfico para tudo: fortalecimento da imunidade, atividade antimicrobiana, hipolipidêmica, anticoagulante, anti-hipertensiva, antitumoral e antioxidante.
E agora que o tempo esfriou, ficamos propensos a pegar uma gripe ou resfriado e nos preocupamos mais ainda em cuidar da nossa saúde.
Mas o que será que faz do alho um alimento com tantos benefícios e o que apontam as evidências científicas?
Origem do alho
O alho é um bulbo comestível que teve origem na Ásia Central e atualmente é cultivado em todo o mundo, sendo possível cultivá-lo até mesmo dentro de casa, em pequenos vasos.
O alho, como conhecemos, pertence à espécie Allium sativum e ao gênero Allium L., o mesmo das cebolas, cebolinha e alho-porró, caracterizados pelos seus aromas fortes, picantes e penetrantes.
Devido as suas propriedades medicinais e culinárias, o alho já era utilizado pelos povos da Mesopotâmia há pelo menos 3.000 anos. Há também registros de Homero (928 a 898 a.C.) sobre o uso tópico do alho por médicos gregos da Antiguidade, para assepsia de feridas de guerra.
Valor nutricional e compostos bioativos
Embora em 100g de alho destaquem-se minerais como o ferro, fósforo, potássio, zinco, selênio e as vitaminas C e ácido fólico (B9), a porção usual consumida (1 a 3 dentes por dia, cerca de 3 a 10g/dia) não fornece valor nutricional significativo.
Os possíveis benefícios do alho para a saúde se dão, na verdade, por conta da presença de compostos bioativos.
Compostos bioativos são compostos que exercem efeito sobre qualquer organismo vivo, mas que se distinguem dos nutrientes essenciais (vitaminas e minerais).
No caso do alho, os compostos de enxofre parecem ser os responsáveis pelos seus benefícios e são formados quando seu tecido é “danificado”, ou seja, quando ele é picado, esmagado ou triturado.
Ao “danificar” o seu tecido, a enzima alinase é descompartimentalizada e transforma a aliina, o principal composto do alho inteiro, em alicina.
A alicina é o principal composto identificado no alho moído que parece contribuir para suas propriedades benéficas.
Já no que se refere ao alho preto (ou envelhecido), por processos que incluem calor ou uma solução de etanol, a alicina transforma-se quimicamente gerando outros compostos sulfurosos.
Esses compostos são o ajoeno, a vinilditiina e o trissulfeto de alil metila, os quais podem contribuir para sua atividade anticoagulante, antitumoral, antimicrobiana e antioxidante.
Os benefícios do alho para a saúde
Com o avanço da ciência ao longo dos anos, diversos estudos demonstraram os possíveis benefícios do alho para a saúde proporcionados pelos seus compostos bioativos.
No entanto, a grande maioria desses estudos foi realizada com cultura de células (in vitro) ou em animais (in vivo) e não refletem o que é realisticamente alcançável em humanos.
A inconsistência dos resultados dos estudos realizados em humanos se deve a diversas variáveis, como o uso de diferentes formulações de alho, doses, durações, limitações dos estudos, dentre outros. E a fisiologia dos animais nem sempre espelha a fisiologia humana, o que impede a extrapolação dos resultados e dificulta a compreensão do seu mecanismo de ação.
Por exemplo, em relação a atividade antimicrobiana e seus efeitos para a imunidade, um artigo de revisão de 2012 verificou que a suplementação com alicina, para a prevenção e tratamento do resfriado comum, se baseia em evidências de muito baixa qualidade e mais estudos são necessários para confirmar seus benefícios.
Já uma formulação tópica a base de ajoene, parece ter atividade antimicrobiana contra o fungo Trichophyton rubrum, conhecido por causar uma infecção conhecida como Pé de Atleta, cujo mecanismo ainda não está claro.
Em relação a sua atividade antitumoral, os mecanismos dos compostos bioativos na prevenção e tratamento de câncer não estão completamente elucidados, mas podem estar relacionados ao seu efeito antioxidante.
No que diz respeito a atividade anti-hipertensiva, uma meta-análise verificou que uma preparação em pó de alho pode ter algum uso clínico em indivíduos com hipertensão leve, mas não há evidências suficientes para recomendá-lo como tratamento clínico.
Os efeitos dos suplementos à base de alho na atividade hipolipidêmica, que abarca seus efeitos para a redução do colesterol LDL, triglicerídeos, aterosclerose e doenças cardiovasculares, também são controversos, independente se a pílula contém alho fresco, alho seco em pó ou extrato de alho envelhecido. E o mesmo vale para o seu efeito anticoagulante.
Portanto, para obter possíveis benefícios do alho, seria necessário consumi-lo na forma de extratos encapsulados, tinturas ou na forma de cremes para uso tópico – e ainda assim, é um tratamento alternativo e jamais deve substituir um tratamento convencional.
Efeitos colaterais
A suplementação com alho em pó, na forma de chá, extrato em cápsulas ou tinturas, em excesso, pode causar mau hálito ou suor malcheiroso.
Além disso, uma vez que os estudos foram feitos em animais, as ações dos compostos podem ser diferentes em humanos, tanto em relação aos benefícios, quanto aos possíveis efeitos colaterais.
Esses possíveis efeitos colaterais incluem a potencialização de alguns medicamentos para a saúde cardíaca, como anticoagulantes (causando sangramento), medicamentos para baixar o colesterol (causando danos aos músculos) e medicamentos para a pressão arterial (causando quedas perigosas na pressão arterial).
A melhor maneira de cuidar da nossa imunidade
Os benefícios do alho para o fortalecimento da imunidade parecem estar relacionados ao seu efeito antioxidante, o que é facilmente alcançado também com o consumo regular de frutas, legumes e verduras.
O alho também possui minerais importantes para a imunidade, como o zinco e o selênio, mas em 100g de alimento, o que é praticamente impossível consumir em um pequeno intervalo de tempo. Esses minerais podem ser obtidos facilmente com o consumo de carnes, aves, peixes, ovos e castanhas, por exemplo.
Ou seja, a melhor maneira de consumir o alho é inseri-lo nas preparações culinárias diariamente, em um contexto de uma alimentação saudável.
O sistema imune é um conjunto de funções do corpo para protegê-lo da entrada de organismos patógenos.
Tanto as células imunes (neutrófilos, macrófagos, linfócitos, eosinófilos, basófilos, etc.), quanto as bactérias que colonizam o nosso intestino, exercem sua função na proteção do organismo e dependem de todos os macros e micronutrientes para sua produção e, assim, combater organismos patógenos (vírus, bactérias e fungos). Por isso, é tão importante ter uma alimentação equilibrada.
As bactérias desejáveis, lactobacilos e bifidobactérias, formam uma barreira na parede intestinal para impedir a entrada de outras bactérias patógenas, como a Escherichia coli, por exemplo. E o consumo de alimentos ricos em fibras (inulina, frutooligossacarídeos e galactooligossacarídeos) encontradas em leguminosas, legumes e frutas, aumentam a população dessas bactérias desejáveis que de fato irão nos proteger, uma vez que competem entre si por um espaço no intestino.
Além disso, o tabagismo, o etilismo e uma alimentação rica em alimentos ultraprocessados, geram processos inflamatórios no corpo e se nossa alimentação e hábitos de vida não estão saudáveis, de nada adianta ingerir quaisquer suplementos.
Livia Freitas e Fernanda Furmankiewicz (CRN/SP 6042) – Nutrição e Curadoria da Boomi.