A questão sobre se o óleo de palma faz mal à saúde, é frequente, especialmente considerando seu uso em diversos produtos alimentícios. Mas o impacto do óleo de palma na saúde depende do seu tipo e processamento.
O óleo de palma in natura (ou azeite de dendê), extraído do fruto da palmeira, ou dendezeiro, tem cerca de 50% de gorduras saturadas e 50% insaturadas, e seu consumo deve ser moderado. O óleo palmístico, extraído das sementes do fruto, tem cerca de 80% de gorduras saturadas e deve ser consumido com cautela. Já o óleo de palma hidrogenado ou interesterificado, presente em alimentos ultraprocessados, deve ser evitado.
Além disso, a produção em larga escala do óleo de palma gera impactos ambientais, portanto, é essencial optar pelo seu consumo in natura, através de fontes sustentáveis, ler os rótulos e fazer escolhas informadas.
O óleo de palma faz mal à saúde?
O óleo de palma é um dos óleos vegetais mais utilizados no mundo, sendo extraído dos frutos da palmeira de óleo (Elaeis guineensis). Esta árvore é nativa da África Ocidental, mas atualmente é cultivada em várias partes do mundo, especialmente em países tropicais, como Indonésia e Malásia, que juntos representam mais de 80% da produção global.
O óleo de palma é barato e onipresente, usado em milhares de produtos do dia a dia, não só alimentares, mas também cosméticos e na produção de biocombustível.
Na indústria alimentícia, ele pode ser encontrado na lista de ingredientes de diversos tipos de alimentos, desde os mais saudáveis até os menos saudáveis, tanto in natura (óleo de palma ou gordura vegetal), quanto na sua forma hidrogenada (gordura vegetal hidrogenada). Daí a preocupação: o óleo de palma faz mal à saúde? Bom, vamos por partes:
- Óleo de palma (azeite de dendê)
O óleo de palma, também conhecido como azeite de dendê, é extraído dos frutos da palmeira Elaeis guineensis (dendezeiro). Após a colheita, os frutos são processados para extrair o óleo da polpa, enquanto as sementes são descartadas. Essas sementes, no entanto, não vão para o lixo; elas são utilizadas na produção do óleo palmístico.
Perfil de gorduras do óleo de palma:
- Gorduras saturadas: 50% a 55% (~40% ácido palmítico, ~5% ácido esteárico).
- Gorduras insaturadas: 45% a 50% (~39% ácido oleico, monoinsaturado; ~8% ácido linoleico, poli-insaturado).
Uso culinário: O óleo de palma, ou azeite de dendê, é usado em pratos como acarajé, moqueca e outros pratos com frutos do mar, além de ser muito utilizado na culinária africana e do sudeste asiático. Além disso, ele pode ser utilizado na confeitaria, na produção de bolos e doces, e na produção de alimentos industrializados, como pastas de nuts, snacks de vegetais, entre outros.
- Óleo palmistico
O óleo palmístico, também conhecido como óleo de palmiste, é um subproduto derivado das sementes dos frutos da palmeira de dendê. O processo de produção do óleo palmístico começa com a extração das sementes após a colheita dos frutos. Essas sementes são prensadas para extrair o óleo, que é utilizado em várias aplicações, especialmente na indústria alimentícia e cosmética.
Perfil de gorduras do óleo palmístico:
- Gorduras saturadas: ~80% (45% a 50% ácido láurico; 16% a 20% ácido mirístico).
- Gorduras insaturadas: ~20% (~10% ácido oleico; ~5% ácido linoleico).
Uso culinário: é menos comum na culinária do que o óleo de palma. Pode ser usado em algumas receitas de confeitaria, como margarinas e produtos de panificação, e em algumas formulações de chocolates. No entanto, seu uso é mais comum na produção de cosméticos e biocombustíveis.
- Óleo de palma hidrogenado, parcialmente hidrogenado ou interesterificado
O óleo de palma é frequentemente hidrogenado (total ou parcialmente) para aumentar sua estabilidade, modificar sua textura e melhorar suas propriedades funcionais em produtos alimentícios. Isso é particularmente comum na indústria de alimentos, onde se busca melhorar a resistência ao calor e à oxidação. No entanto, neste processo, podem ser formadas as gorduras trans, associadas a riscos à saúde, como aumento do colesterol LDL (colesterol “ruim”) e redução do colesterol HDL (colesterol “bom”). Portanto, é importante monitorar o consumo de óleos hidrogenados, especialmente os parcialmente hidrogenados, devido à possibilidade de presença de gorduras trans.
O óleo de palma também pode ser submetido ao processo de interesterificação, que modifica a estrutura dos ácidos graxos (moléculas que compõem as gorduras) sem criar gorduras trans. Isso resulta em uma gordura com propriedades desejáveis para produtos alimentícios, como margarinas e produtos de panificação.
Embora seja tecnicamente possível realizar hidrogenação e interesterificação no óleo palmístico, esses processos não são tão comuns quanto no óleo de palma.
Perfil de gorduras do óleo de palma e palmístico
Agora que você já conhece um pouco sobre cada tipo de gordura extraída do dendezeiro e o seu processamento, respondendo à pergunta sobre se o óleo de palma faz mal à saúde, temos:
- Óleo de palma in natura (ou azeite de dendê): tem ~50% de gorduras saturadas, dessas, 40% em um tipo de gordura saturada chamada de ácido palmítico. Este tipo de gordura está relacionado ao aumento do colesterol ruim (LDL). Portanto, o seu consumo deve ser moderado. Apesar de o óleo de palma apresentar ~50% em gorduras insaturadas, existem alimentos que apresentam uma proporção maior (~70% ou mais), como azeite, castanhas e peixes gordos, com maiores benefícios à saúde cardiovascular.
- Óleo palmístico: contém ~80% de gorduras saturadas, sendo 5% a 50% ácido láurico e 16% a 20% ácido mirístico, relacionadas ao aumento do colesterol ruim (LDL). Este perfil de gorduras é semelhante ao do óleo de coco que, assim como o óleo palmístico, deve ser usado com cautela, de forma pontual na alimentação. Confira o post “4 mitos e verdades do óleo de coco” para saber mais.
- Óleo de palma hidrogenado/interesterificado: pode formar gorduras trans, além de estar presente em alimentos ultraprocessados, cujo consumo deve ser evitado.
Questões ambientais relacionadas ao óleo de palma
A produção de óleo de palma gera sérios impactos ambientais, especialmente pelo desmatamento em larga escala para o cultivo das palmeiras. Esse processo destrói florestas tropicais, importantes para o clima e a biodiversidade, resultando na perda de habitats e no aumento das emissões de gases de efeito estufa. Práticas agrícolas insustentáveis também degradam o solo e poluem a água, afetando comunidades locais e ecossistemas.
Diante dessa realidade, iniciativas de certificação, como a RSPO (Roundtable on Sustainable Palm Oil), buscam promover a produção sustentável do óleo de palma, incentivando práticas que respeitem a biodiversidade e os direitos das comunidades locais. No entanto, a eficácia dessas iniciativas depende da adesão e fiscalização rigorosa das diretrizes estabelecidas, além de uma mudança de comportamento por parte dos consumidores em relação ao consumo de produtos que utilizam óleo de palma.
A preocupação principal em relação ao óleo de palma se concentra no seu uso excessivo, na produção em larga escala de alimentos menos saudáveis. Por isso, é fundamental evitar alimentos que contenham óleo de palma hidrogenado e escolher produtos que priorizem ingredientes saudáveis.
Quando o óleo de palma é utilizado em sua forma natural, como o azeite de dendê, e em quantidades moderadas, ele pode ser incorporado de forma mais saudável na dieta, desde que os consumidores estejam cientes do seu perfil de gorduras.
Portanto, produtos que utilizam óleo de palma de maneira consciente e em quantidades equilibradas podem ser uma opção viável, especialmente se forem de fontes sustentáveis. A chave é sempre ler os rótulos e fazer escolhas informadas.
Livia Freitas (CRN/SP 3 82983) e Fernanda Furmankiewicz (CRN/SP 6042) – Nutrição e Curadoria da Boomi.
Referências
DANGUI, João Carlos; MORAES, Carla do Carmo. O óleo de palma: benefícios e malefícios. 2020. Disponível em: https://books.google.com.br/books?hl=en&lr=&id=TF_eDwAAQBAJ&oi=fnd&pg=PA108&dq=producao+azeite+de+dende&ots=bVD370ZZJO&sig=t0W3vCACbDLsLYzD8LFZ5tVbcs0&redir_esc=y#v=onepage&q&f=false. Acesso em: 1 nov. 2024.
ESTADÃO. O óleo de palma: por que considerado danoso. Disponível em: https://agro.estadao.com.br/summit-agro/oleo-de-palma-por-que-considerado-danoso. Acesso em: 1 nov. 2024.