A alimentação é determinante na gestão da saúde e qualidade de vida de pessoas com doença de Parkinson. Diante dos desafios apresentados por essa condição neurodegenerativa, é fundamental compreender melhor como deve ser a alimentação para quem tem doença de Parkinson.
A alimentação para pessoas com doença de Parkinson deve enfatizar alimentos ricos em fibras, antioxidantes e proteínas magras, enquanto limita o consumo de gorduras saturadas e trans. Distribuir a ingestão de proteínas ao longo do dia pode ajudar a minimizar possíveis interações medicamentosas.
Além disso, evitar alimentos que possam causar constipação e moderar o consumo de cafeína e álcool também são recomendados. Uma abordagem individualizada, orientada por um profissional de saúde, é essencial para atender às necessidades específicas de cada paciente.
Alimentação para quem tem doença de Parkinson
A doença de Parkinson é de fato a segunda enfermidade neurodegenerativa mais comum, ficando atrás apenas da doença de Alzheimer. Estima-se que cerca de 1% da população acima dos 60 anos seja afetada pela doença de Parkinson, e sua prevalência tende a aumentar com a idade.
Alterações no cérebro, incluindo a perda de células produtoras de dopamina na substância negra, são características da doença.
As causas exatas ainda não são totalmente compreendidas, mas acredita-se que envolvam uma combinação de fatores genéticos, ambientais e bioquímicos, como exposição a toxinas ambientais, inflamação crônica e predisposição genética.
Os sintomas podem variar de pessoa para pessoa e incluem sintomas motores, como tremor, rigidez muscular, lentidão de movimentos e instabilidade postural, e sintomas não motores, como distúrbios do sono, alterações de humor, problemas cognitivos e digestivos.
O diagnóstico é geralmente baseado na avaliação clínica realizada por um médico neurologista. O diagnóstico é tipicamente confirmado com base na presença dos principais sintomas motores da doença. Além disso, o médico pode realizar testes neurológicos específicos para avaliar a função motora e cognitiva do paciente, além de exames de imagem, como ressonância magnética ou tomografia computadorizada, solicitados para descartar outras condições neurológicas que possam estar causando sintomas semelhantes.
O tratamento envolve o uso de medicamentos que visam aumentar os níveis de dopamina no cérebro. Isso pode incluir medicamentos como levodopa, agonistas dopaminérgicos, inibidores da monoaminoxidase-B, entre outros. Esses medicamentos ajudam a aliviar os sintomas motores, como tremor, rigidez muscular e lentidão de movimentos. Em alguns casos, a cirurgia de estimulação cerebral profunda pode ser considerada para pacientes com sintomas mais avançados e refratários aos tratamentos convencionais.
O tratamento medicamentoso é frequentemente combinado com terapias complementares, como fisioterapia, terapia ocupacional e fonoaudiologia, para melhorar a qualidade de vida e a funcionalidade do paciente.
Diversos estudos verificam a relação entre diferentes padrões alimentares e a doença de Parkinson, chegando à conclusão de que uma alimentação saudável é determinante para a saúde geral e qualidade de vida, podendo retardar a progressão da doença se comparada a uma dieta pobre em nutrientes.
Portanto, apesar de não existir uma dieta específica para a prevenção ou tratamento, a alimentação para quem tem doença de Parkinson pode ser da seguinte forma:
- Dieta mediterrânea
A maneira de produzir e consumir alimentos na região do mediterrâneo, começou a ser estudada em 1950, pois a população local tinha uma longevidade acima da média mundial. Desde então, estudos revelam uma forte correlação entre a dieta mediterrânea a maior longevidade, menores taxas de morbidade e de mortalidade por doenças crônicas.
A dieta mediterrânea basicamente baseia-se em frutas, legumes, verduras, grãos e cereais integrais, peixes e frutos do mar, ovos, aves e azeite.
Este padrão alimentar, por ser altamente nutritivo e rico em fibras e compostos bioativos, pode ajudar a reduzir o estresse oxidativo relacionado à progressão da doença de Parkinson, além de ajudar na constipação, que ocorre devido à desaceleração do sistema digestivo.
- Água
É fundamental que pessoas com doença de Parkinson bebam mais água devido a vários fatores associados à condição, como dificuldades motoras que podem prejudicar a capacidade de alcançar e beber líquidos, problemas de deglutição que podem levar à ingestão insuficiente de água, sintomas não motores como constipação que aumentam o risco de desidratação e possíveis alterações no controle da bexiga que podem resultar em uma diminuição na ingestão de líquidos para evitar idas frequentes ao banheiro. Manter-se hidratado ajuda a prevenir complicações de saúde, melhora a função cognitiva e física, e contribui para o bem-estar geral e qualidade de vida das pessoas com Parkinson.
- Alimentos ricos em ômega 3 e em gorduras de boa qualidade
Pessoas com doença de Parkinson podem se beneficiar do consumo de peixes e alimentos ricos em gorduras mono e poliinsaturadas devido aos seus potenciais efeitos neuroprotetores e antiinflamatórios. Estudos sugerem que gorduras ômega-3, encontradas em peixes como salmão, atum, sardinha, óleos de linhaça e de chia, nozes e castanhas em geral, podem ajudar a reduzir a inflamação no cérebro e proteger contra danos neuronais.
- Alimentos pré e probióticos
A relação entre a microbiota intestinal e a doença de Parkinson tem sido objeto de estudo crescente. Estudos indicam que pessoas com Parkinson frequentemente apresentam mudanças na microbiota intestinal, incluindo uma diminuição de certas espécies de bactérias benéficas.
Por isso, pré e probióticos, que visam melhorar a composição da microbiota intestinal, têm sido investigados como uma abordagem potencialmente benéfica no tratamento da doença de Parkinson.
Alimentos prebióticos, como frutas, legumes, aveia e psyllium, por exemplo, fornecem fibras solúveis que promovem o crescimento de bactérias benéficas. Já os alimentos probióticos, como iogurte natural, leite pasteurizado e kefir, por exemplo, contém cepas vivas de bactérias benéficas.
- Cafeína
A cafeína é um estimulante do sistema nervoso central que pode ajudar a melhorar a função motora, reduzir o risco de desenvolver a doença e até mesmo retardar sua progressão. Além disso, a cafeína pode ajudar a aliviar a sonolência diurna e melhorar a função cognitiva em pessoas com Parkinson. No entanto, os efeitos da cafeína podem variar de pessoa para pessoa, e o consumo excessivo pode causar efeitos colaterais indesejados. Portanto, é sempre recomendável consultar um nutricionista antes de fazer alterações na dieta ou no consumo de cafeína como parte do tratamento da doença de Parkinson.
- Antioxidantes
Os compostos bioativos, como os polifenóis presentes em frutas, legumes e verduras, podem ajudar a neutralizar o estresse oxidativo no cérebro, associado ao desenvolvimento e progressão da doença. Vitaminas e minerais com propriedades antioxidantes, como a vitamina C, vitamina E, selênio e zinco, encontrados nas frutas, legumes, verduras e castanhas, podem ajudar a proteger as células cerebrais contra danos causados pelos radicais livres. Uma dieta rica em alimentos que contenham esses nutrientes, como é o caso da dieta mediterrânea, pode ajudar a minimizar os sintomas e melhorar a qualidade de vida das pessoas com doença de Parkinson.
- Utilizar medicamentos 2 horas após as refeições
Pessoas com doença de Parkinson são frequentemente aconselhadas a esperar cerca de duas horas após uma refeição antes de tomarem seus medicamentos, como levodopa. Isso ocorre porque a absorção de levodopa pode ser afetada pela presença de proteínas na dieta, especialmente em grandes quantidades. As proteínas podem competir com a levodopa pelos mesmos transportadores no intestino, retardando sua absorção e diminuindo sua eficácia. Esperar duas horas após a refeição pode permitir que o medicamento seja absorvido de forma mais eficaz, maximizando seus efeitos no tratamento dos sintomas da doença de Parkinson.
- Praticar exercícios físicos
Pessoas com doença de Parkinson se beneficiam significativamente da prática regular de exercícios físicos devido aos seus efeitos positivos na melhoria da mobilidade, força muscular, equilíbrio e flexibilidade. O exercício também pode ajudar a reduzir os sintomas motores, como rigidez muscular e lentidão de movimentos, além de contribuir para a manutenção da saúde cardiovascular e a prevenção de quedas. Além disso, exercícios aeróbicos e de resistência podem ter efeitos neuroprotetores, promovendo a plasticidade cerebral e retardando o progresso da doença. Assim, a prática regular de exercícios físicos é amplamente recomendada como parte integrante do tratamento da doença de Parkinson, proporcionando melhorias significativas na qualidade de vida e no bem-estar geral dos pacientes.
- Evitar alimentos pobres em nutrientes
Alimentos pobres em nutrientes, como alimentos ultraprocessados, refinados e açucarados, fornecem poucos benefícios nutricionais e podem contribuir para deficiências de vitaminas e minerais essenciais. Isso pode ser especialmente problemático para pessoas com Parkinson, que podem enfrentar desafios adicionais de saúde, como dificuldades na deglutição, problemas gastrointestinais e maior risco de desnutrição.
Livia Freitas e Fernanda Furmankiewicz (CRN/SP 6042) – Nutrição e Curadoria da Boomi.
Referências
Knight E, Geetha T, Burnett D, Babu JR. The Role of Diet and Dietary Patterns in Parkinson’s Disease. Nutrients. 2022 Oct 25;14(21):4472. doi: 10.3390/nu14214472. PMID: 36364733; PMCID: PMC9654624.
The Johns Hopkins University. Johns Hopkins Medicine. Fighting Parkinson’s Disease with Exercise and Diet. Baltimore, USA. Disponível em: https://www.hopkinsmedicine.org/health/conditions-and-diseases/parkinsons-disease/fighting-parkinson-disease-with-exercise-and-diet